"A palavra que se traduz em tantas outras, em sentimentos dos mais nobres: assim se desenha cada página deste livro. Apenas Isso e Algo Mais é uma obra que, através de suas poesias vivas e pulsantes, mostra um universo feminino cheio de amor e emoção. Cada página representa um tempo, um instante vivido com intensidade múltipla e que agora, apaixonadamente, perpetua-se em um livro. Sentir ao máximo cada palavra: é apenas isso que Andressa quer de nós." Litteris Editora

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

21. Algo mais

Minha mente vivia sempre absorta em meus próprios pensamentos. Meu coração era apenas retalhos mal emendados. Minha alma era um ser esquecido, dentro de um mundo real, que se punha a fugir para um mundo imaginário. Até ele aparecer...

Não podia imaginar que, de repente, meu mundo mudaria por causa de um simples encontro de olhares. No entanto, aqueles olhos, pareciam-me familiares... Quem sabe, os vi em sonho.

É como se estivesse destinado a acontecer, naquele século, naquela década, naquele ano, naquele mês, naquele dia, naquela hora, naquele instante. Diferente disso, não ocorreria e nem teria o mesmo encanto.

Foi mágico. Embora houver outros momentos mágicos na vida daqueles que se encontram apaixonados, sempre quando acontece, parece como se esse, que existe nesse instante, fosse único... E a verdade é que é.

Meu coração havia batido daquela forma, com aquela intensidade, apenas uma vez. E fora na infância, quando tudo era muito mais bonito, verdadeiro, puro e enobrecedor, um amor além de qualquer coisa, capaz de chorar um dia inteiro por um simples olhar rejeitado da pessoa amada.

Não sei o que ele pensou quando meu olhar refletia no dele, permanecendo fixo até sua imagem desaparecer. Ele poderia ter-me ignorado, mas não. Em todos os olhares que dei, aqueles lindos olhos permaneceram fixos aos meus. Fui correspondia como nunca houvera sido antes, tanto que estrelas saiam destes olhos meus... Acredito até que ele podia vê-las.

Não consegui esconder o que sentia, muito menos, a vontade que parecia faiscar do meu olhar. Eu o queria, como nunca quisera alguém, inexplicavelmente.

Queria saber quem era o dono daquela imensidão... Daquele verde-mar e sol que me diziam tanto. Eu não sossegaria enquanto não soubesse quem era ele. Não poderia se tratar de qualquer homem para, sem ter feito nada, me tocar naquele jeito e prender, como numa cadeia, a minha atenção. Eu podia sentir alguma coisa que estava além do parecer. Algo mais por trás daquele encanto, no mais profundo daquele ser. Eu podia sentir... 

Meu corpo inteiro se arrepiou quando decidi e comecei a escrever um poema, inspirado naquela alma, daqueles olhos que me diziam o inesperado. Minhas mãos suavam frias. Eu tremia. Meu coração batia rápido e descompassado. Eu o sentia comprimir meu corpo como se quisesse saltar por minha boca, para fugir de um temor maior que o de se apaixonar.

Eu nem conhecia aquele homem, e ele simplesmente me inspirou as mais sinceras palavras de um amor desconhecido. Com uma coragem que só meu sangue poderia descrever, disse-lhe ali que o queria. Falei da vida e, ao mesmo tempo, dos meus sonhos, do desejo que eu tinha de um amor que ama. E, na última chance que tive, evitei pensar, apenas entreguei-lhe aquela folha de caderno, em mãos, já com uma sensação de desmaio. Pensei que as minhas pernas não me suportariam naquela hora, mas suportaram. Precisei de alguns minutos para começar a me recuperar, devagar, o tremor foi passando, as batidas diminuindo... Até ele aparecer novamente dizendo o meu nome.

Pensei, agora, que o teto ia desabar sobre mim; cheguei até a olhar para cima, mas, nada, permanecia intacto sem nenhum sinal de rachadura ou instabilidade. Eu devia estar ficando louca, verde, azul, vermelha. Queria um buraco invisível para me esconder, mas era tarde. O que eu havia feito estava feito, não poderia mais ser mudado e eu devia arcar com as conseqüências que, na verdade, eu desconhecia e nem sequer esperava.

Os olhos dele, agora, pareciam diferentes ao me olhar, como se não acreditassem. Eu apenas respondi com meu sorriso e meu olhar, agora, tímido... Não sabia muito que fazer, eu ria alegre da situação e, principalmente, por me encontrar absolutamente desprotegida daquela coragem que me fizera, antes, desafiá-lo. 

Havia assinado o poema apenas com meu nome, motivo pelo qual fez-lo vir até mim, mas não foi intencional, tudo aconteceu naturalmente e espontâneo, o que era mais incrível. Tanto que me despedi dando um abraço, num homem que eu acabara de conhecer. Nem eu mesma me apercebi daquilo, mas ele se apercebeu. E, na segunda vez, ele já esperava o mesmo abraço que, antes, gostara de receber, embora, agora, querer também um beijo, que, na verdade, não aconteceu ali naquele instante. O que, todavia, poderia parecer estranho, tornava o momento ainda mais mágico.

O próprio tempo mostraria quando deveria acontecer. Nada era esperado, tudo simplesmente acontecia. Como se o Destino estivesse além de nós dois, deixando-nos fora do próprio tempo. 

Aquele homem, do olhar mais lindo que já vi, da pele mais cheirosa que senti, descobriu em mim algo inacreditável... Estava além da menina que ele mesmo viu. Além daqueles olhos tímidos, às vezes menina, às vezes mulher. Mas sempre o mesmo sorriso dócil, o mesmo encanto e o mesmo espanto perante as coisas desconhecidas, perante aquele sentimento que, para ele, era intruso, improvável, ao mesmo tempo em que forte e misterioso... Sentimento, agora, que passara a temer. Como se eu tivesse uma culpa imperdoável por ele ter mudado. Estava tudo bem, até aqueles olhos negros como a noite aparecerem o desafiando.

O que eu podia fazer? Lutar contra tudo o que já havia me dominado de forma tão boa? Eu mesma não esperava que, naquele dia, a minha história, a que eu estava construindo, seria mudada. Amá-lo era o meu destino. As estrelas do céu contavam nossa própria história. Éramos nós que nunca havíamos lido o que elas escreviam naquele livro infinito.

Eu não poderia mais voltar atrás... Estava além de mim. Além de o meu próprio conhecer. É como se ele me houvesse trazido, sem saber, a chave que abria por dentro o meu coração. Talvez por isso, minha paixão não perguntara, para mim ou para as próprias pessoas que achavam o impossível e absurdo, se já poderia se transformar em amor... Simplesmente irradiou meu corpo de luz, uma luz que somente o amor possui. E eu passei a viver, intensamente, mais. Porque o Destino me mostrou o caminho, e o meu coração decidiu segui-lo.

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